São boas notícias não só para os cidadãos, mas também para muitos dos alunos de instituições como a Escola Superior de Saúde Dr. Jaime Lopes Dias (ESALD), em Castelo Branco.
Com novas aplicações e mais profissionais a trabalharem na área, a fisioterapia é uma das especialidades médicas que nos últimos anos tem vindo a conquistar mercado e a ganhar terreno à enfermagem.
O alargamento da oferta formativa também tem ajudado a abrir novas portas aos futuros técnicos da terapia física, acompanhando a evolução de uma ciência que já não se esgota na reabilitação.
“Mudou o paradigma do que é a prestação dos cuidados de fisioterapia, que deixaram de estar exclusivamente centrados na doença e na deficiência”, explica à Beira TV Vítor Pinheira, coordenador do curso de Fisioterapia da ESALD. “Estamos a trabalhar antes que os problemas surjam, com todas as populações, desde infantis e juvenis a adultas”.
“Cada vez mais estamos a assistir a uma intervenção da Fisioterapia em campos que sempre foram o dela, mas que nem sempre têm sido reconhecidos”, acrescenta António Coutinho, um dos docentes da licenciatura na escola de saúde.
“Também está a ser cada vez mais utilizada no âmbito da prevenção e temos um maior número de alunos de escolas públicas e privadas que dão maior visibilidade nos vários âmbitos da Fisioterapia, que são muito vastos”.
Novas especialidades que vão da fisioterapia pediátrica à gerontológica, abrangendo desde as lesões musculares aos distúrbios neurológicos.
Mais do que recuperar, a prioridade agora é prevenir a doença e fomentar a saúde. Forma não só de melhorar a qualidade de vida, mas também de reduzir custos associados a uma área onde muda também a relação com o paciente.
“Estamos numa área em que o bio-psico-social é fundamental para termos uma visão muito completa do nosso paciente”, refere António Coutinho. “Não podemos ficar exclusivamente pelo físico, até porque temos a parte articular e musculo-esquelética, mas também a respiratória, neurológica, cardíaca ou vestibular, das alterações de equilíbrio. Portanto, a Fisioterapia tem um campo muito vasto para poder intervir”.
Em Portugal, a fisioterapia marca presença dentro e fora do sistema público de saúde, dos ginásios aos centros de apoio social. No país existem cerca de quatro mil fisioterapeutas, formados nos 19 cursos leccionados em sete escolas estatais e 12 privadas. O número de profissionais deverá continuar a crescer, também na Beira Interior. Região envelhecida onde a reestruturação de serviços sociais pode ajudar a aumentar a empregabilidade no sector, contrariando as dificuldades sentidas noutras áreas da saúde.
“Há 25 anos, formavam-se 100 fisioterapeutas por ano. Neste momento, andamos próximos dos 800 a nível nacional”, recorda Vítor Pinheira. “Praticamente terminavam todos o seu percurso profissional em hospital. Hoje é uma percentagem muito reduzida e há fisioterapeutas em clubes desportivos, em instituições de terceira idade, de deficientes”.
Para além destes espaços, também as academias se concentram nas novas necessidades médicas. Consultora em dois projectos ainda não aprovados, a ESALD irá colaborar na validação de um aparelho desenvolvido por uma empresa localizada na Covilhã. Dispositivo biométrico já utilizado na fisioterapia desportiva, e que também pode ajudar a avaliar e a melhorar a saúde na região.
“O nosso objectivo é, a partir de um hardware base, desenvolver um programa que poderá funcionar como ‘programa de reabilitação’ que pode ser presencial ou não”, reitera Vítor Pinheira. “O outro é um projecto também em parceria com a Universidade da Beira Interior, no desenvolvimento de têxteis inteligentes e na sua utilização na análise de sinais e também no desenvolvimento de protocolos de intervenção”, diz o coordenador do curso de Fisioterapia da ESALD.
“Também a cardiopneumologia tem projectos orientados para a qualidade de vida”, adianta Pedro Ribeiro, professor coordenador na escola de saúde. “Nas análises clínicas estamos muito centrados na investigação na área da saúde pública. Ao nível da enfermagem temos participações em projectos da comunidade, com realce para as escolas”, lembra o antigo director da ESALD. “A radiologia é a área que está mais atrasada, uma vez que os equipamentos ainda não estão totalmente instalados, mas temos um conjunto de ideias e projectos pensados”.
Instalada desde 2008 no Campus da Talagueira, a escola mais antiga do Instituto Politécnico de Castelo Branco conta com várias estruturas de apoio às cinco licenciaturas, entre elas um ginásio e uma piscina terapêutica destinados ao curso de fisioterapia.
Unidade que para lá dos projectos de investigação poderá colaborar também na prestação de cuidados médicos à comunidade e a preços simbólicos. Uma ambição de longa data da escola, que aguarda ainda pela acreditação dos seus laboratórios.
“O objectivo da escola é, em áreas que estejam carenciadas, enriquecer a aprendizagem dos alunos e criar um banco de dados extremamente útil em investigação científica”, conclui Preto Ribeiro.“Estamos em fase de teste de equipamentos e de procedimentos. Penso que dentro de um ou dois anos lectivos já estejamos a prestar serviços à comunidade”.
Entretanto, os aspirantes a fisioterapeutas vão estudando o movimento das articulações e pondo à prova conhecimentos de anatomia, biomecânica ou psicossociologia. Matérias essenciais numa ciência que procura recuperar capacidades motoras, corrigir posturas ou minimizar deformações causadas por acidentes ou doenças degenerativas.
Garantir a mobilidade, bem-estar e independência durante o máximo de tempo é um dos objectivos da fisioterapia. Missão que no interior do país se concentra na prevenção e tratamento de problemas causados pela dor, envelhecimento ou inactividade prolongada.
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